Livro Comandos Socialistas
OS IRMÃOS SELVA
Biélla, Piemonte, é uma das regiões italianas mais procura das pelos turistas. Entre montanhas famosas, das suas quintas e hotéis avista-se o celebrado Monte Branco, que as crianças de todo
o mundo conhecem desde as primeiras lições de geografia.Mas Bélla não ostenta, apenas belezas naturais: é um grande centro de indústrias diversas, salientando-se na sua acreditada produção a famosa Casemira que nósoutros, no hemisfério ocidental, também chamamos de “inglesa”, por que sempre mereceu a preferência dos elegantes londrinos.
E sendo centro de produção, Blélla foi pioneira do ensino profissional. Si é verdade que tais estabelecimentos estão difundidos por toda a Itália, ao pé do Monte Branco era questão de honra das
famílias ensinar uma profissão útil aos “bambinos. O patriarca dos Selva, por isso, não fugiu à regra geral. Fez com que todos os filhos homens servissem à coletividade de maneira efetiva e concreta. Assim foi que no fim do século passado deixou a terra natal, para correr mundo, o jovem técnico-agrimensor Frederico Selva. Os ventos da sorte levaram-no à Argentina, onde em Córdova, com Alexandre Villa, contratou reformas urbanas valiosas e outros serviços de engenharia.
Mas a política provinciana mudou em meio a empreitada. E os dois lutadores viram-se sem serviço e sem dinheiro. Vieram, então, procurar trabalho no Brasil.
Outro irmão, João Selva, hoje construtor em Florianópolis, também se encaminhou ao nosso pais, tempos depois. Destinava-se ao Rio Grande, mas gostou de Florianópolis$ e interrompeu a viagem. Aqui trabalhou desde logo, no calçamento da Praga 15 de Novembro e na reforma da Praça do Teatro, quando prefeito o inesquecível Campos Lobo. Seu primeiro serviço, por sinal, foi pago em moedas de cobre, lá por 1901. O austero e honesto governador da cidade entendera que o moço italiano deveria receber o produto de sua empreitada no dia marcado. Como os cofres prefeiturais estivessem desfalcados de outro dinheiro, Campos Lobo entregou a João Selva um caixote de sabão atulhado de vinténs…
Hoje industrial e empreiteiro de grandes obras, João Selva recorda, com saudade, aquele dia em que atravessou a Praça 15, com um caixão de dinheiro nas costas, radiante, ufano da primeira vitória..
Frederico Selva naturalizou-se brasileiro a 26 de novembro de 1889 (decreto 13 A da era republicana). Em 1902, 8 de Dezembro, o Instituto Técnico-Comercial e Naval deste Estado, concedeu-lhe diploma de agrimensor, “de acordo com as provas apresentadas”. Antes disso, porém, a 17 de junho de 1896, o ministro da Viação, em nome do Presidente da República, nomeara-o auxiliar da Comissão de Melhoramentos dos Portos onde permaneceu até 1906, quando recebeu o título de auxiliar-técnico.
Decreto presidencial de 22 de Outubro de 1906, deu-lhe o posto de Capitão da 2ª. Bateria, do 3º Regimento de Artilharia de Campanha, da Guarda Nacional, servindo em Itajaí.
Em 1912 (20 de Julho) O governo designou-o condutor de 1ª classe da Diretoria de Portos, cargo que deixou em 1915 (28 de Agosto) para exercer as mesmas funções na Comissão de Estradas,
Obras Públicas e Rios de Santa Catarina.
Com José Boiteux, cooperou na fundação do Instituto Politécnico, onde obteve diploma de engenheiro. Pelos seus serviços ao referido estabelecimento de ensino, a 13 de margo de 1923 recebeu
diploma de lente catedrático de Topografia, Geodesia, Astronomia, Desenho Linear e Topográfico, do Curso de Agrimensura. Mais tarde diretor do instituto, também foi lente catedrático de Matemática (nomeado a 21 de outubro de 1931). Laguna e Itajaí, onde esteve como auxiliar de engenheiro e chefe das Obras do Porto, respectivamente, também conheceram os esforços de Frederico Selva.
O Brasil, Santa Catarina, em particular Florianópolis, devem valiosos serviços aos irmãos Selva. Entre eles, grande descendência brasileira que faz a sequência de um labor continuado e de sincero
amar pátria adotiva dos seus pais. Mais à vista, temos de João Selva edifícios públicos modernos, como a Penitenciária, a Colônia Sant’Ana, os Postos de Puericultura e uma série de esforços conscienciosos para o embelezamento de Florianópolis.
E um dia, quando os homens melhor se compreenderem, ficará à posteridade a certeza de que a Pátria dos trabalhadores é a terra onde eles constituem família e onde deixam provas da sua passagem benemérita.
Petrarcha Callado, 1947.